CADA VEZ QUE PASSO NESTE LOCAL, CHEGA SEM DEMORA A VISÃO QUE TENHO DE MENINA COM ESTE PAUL TODO INUNDADO, COM MUITA ALTURA DE ÁGUA, LOGO NO OUTONO, ONDE NEM O ARROZ AQUI SEMEADO SE TINHA COLHIDO, MUITAS VEZES POR FALTA AINDA DE MATURAÇÃO, OU QUANDO JÁ CEIFADO MAS SEM TEMPO PARA O RECOLHEREM...... CHEGAVA SEM AVISO O MAU TEMPO, COM ELE AS LEZÍRIAS E OS PAUIS FICAVAM COMPLETAMENTE INUNDADOS, OS MOLHOS DO ARROZ DESLIZAVAM NA CORRENTE, NO CIMO DAS ÁGUAS!!!
PERDIAM ASSIM TODA A COLHEITA.... TODO O TRABALHO....TODA A DESPESA..... SEM AVISOS NEM SEGUROS!!!
RUÍNA DE MUITOS AGRICULTORES!!!
Uma boa recordação na escola veio do tempo das cheias... os pauis, ficavam todos alagados, as águas das cheias subiam ali, na Ponte do Celeiro, vários metros, acima do normal.
E aquela era uma
das maiores cheias lembradas pelos residentes, que colocavam agora paus
espetados a marcar a beira da água, chamavam-lhes uma baliza, sempre que por lá
iam para ver, assim iam sempre verificando se o nível estava a subir ou a descer.
Tinha havido na
ponte um acidente - ainda as águas estavam mais baixas - com uma camioneta que
andava a fazer transporte de vinho, o motorista tinha pensado em entrar na
ponte para passar, entrou mas esbarrou ao lado, e a camioneta mergulhou para a
vala ficando apenas com a traseira de fora. O homem lá conseguiu sair mas o
vinho foi pela cheia abaixo.
Este foi então
um dia especial de passeio em que a tal professora levou os seus alunos a ver a
cheia, e Dalila ficou muito feliz com este passeio, de ver a cheia ali mesmo na
beirinha, o que normalmente não acontecia, só via de longe, dos cabeços de
Almodelim, pois a sua casa ficava mais perto dos cabeços.
No tempo das
cheias a camioneta permanecia do lado de cá, e outra esperava do lado das
Fontainhas, depois, vinham barcos dos pescadores, e assim passavam as pessoas
até à outra camioneta. Mas Dalila nunca passou de barco, para além do medo não
tinha nada que a levasse a Santarém em tempo de cheias.
PELO MEU OLHAR
Penetro o meu
olhar
Pela noite
branca
Ou em camadas
suspensas
De, atmosferas
nebulosas
Ou, banhadas, pelo
luar.
Num ecrã,
Uma, casinha
branquinha,
baixinha,
Entre montes
abrigada,
Entre, nascentes
cantadas,
De, imagens
filtradas,
De, lembranças
guardadas
Rebuscadas,
Pelo meu olhar,
Ou pela minha
capacidade,
de sonhar.
Acordo, abro os
olhos
ao dia que
nasce, ao sol,
que na minha
janela
já sorri para
mim!
Revejo o
invisível,
até na
distância!
A minha casinha
branquinha,
Baixinha,
Entre montes
abrigada,
entre nascentes
cantada,
recatada,
encantada
e, guardada,
Pela minha
capacidade
De sonhar.
Lídia Frade
IMAGENS DO LADO SUL, E ESTES ESPELHOS DE ÁGUA QUE ADORO FOTOGRAFAR!!!
OS TRABALHOS DO ARROZ
Como é de
calcular, Dalila, antes de tudo o mais, trabalhava. E se na quinta dos Faias
tinha começado a trabalhar no tomate, depois estivera nas vindimas, na azeitona,
e apanha das vides quando chegou a Primavera, e nas mondas do trigo, e dar água
à cura, de seguida Dalila iria trabalhar no plantio do arroz e, a seguir, nas
mondas do arroz.
Julieta não
podia fazer os trabalhos do arroz, tinha uma perna com um problema desde
criança que poderia agravar-se com um simples arranhão, e plantar arroz era
andar dentro de água, dentro de lama, até quase ao joelho.
Depois Dalila
também estava bem acompanhada com várias mulheres da Atalaia, que já estavam
habituadas, e foram elas que ensinaram Dalila, e no meio delas foi fácil
aprender. Plantar arroz era engraçado, chegava atado em molhinhos pequenos, molhos
que uma mulher pudesse agarrar só com uma mão, depois separava três ou quatro
pés de plantas e colocava na lama, sempre recuando, umas ao lado das outras,
suficientes para preencher a largura do canteiro.
Ficava assim um
trabalho muito certinho, as plantas com parte da rama fora de água, a outra
metade dentro da terra e da água, e como era feito a recuar, quando chegavam ao
fim estava o canteiro lindo.
Quando acabavam
de plantar o paul todo já o que havia sido plantado primeiro tinha crescido e,
com ele, as ervas daninhas. Todas as ervas que crescessem facilmente dentro de
água se desenvolviam, e aí era preciso arrancá-las. Chegavam assim as mondas, e
continuava a ser esse um trabalho divertido para uma moça nova, andar naquele
trabalho, era chapinhar um dia inteiro dentro de lama mas não era difícil,
depois, bom... havia uma maneira de irem para casa cedo, pelo meio da tarde.
O grupo de
mulheres a que pertencia Dalila fazia todos os dias um acordo verbal, ou talvez
mais um desafio. O capataz percorria uma certa área de canteiros de arroz,
aquilo que achava razoável para o trabalho de um determinado grupo de mulheres
até à noite. A chefe mais sabida do grupo, ou mais conhecedora do trabalho,
aceitava ou discutia a empreitada com o capataz, e metiam todas mãos ao
trabalho, com garra, e pelas quatro
horas da tarde, mais ou menos, estavam perto de acabar o seu dia de trabalho e
voltar para casa, com todo o trabalho acordado já executado.
Por essa época
começou a ser implantada uma novidade nas sementeiras do arroz, a sementeira
directa já nos canteiros. Começavam a fazer a título experimental, tudo era
feito com outra dimensão, e por isso mesmo não podia ser em canteiros como os
de plantio manual. A monda também passaria a um processo químico, e todos os
outros trabalhos foram sendo alterados e substituídos, o trabalho manual trocado
pelo de máquinas.
Triste era,
nesta época, em tempo de cheias, se chovia muito cedo e os pauis enchiam, sem
que os arrozeiros tivessem tempo para retirar o arroz, por não estar ainda devidamente
maduro e, por isso mesmo, capaz de ceifar.
Enquanto os
trabalhos eram feitos manualmente, era complicado: os ranchos iam ceifando o
arroz que ficava espalhado por cima do restolho e, logo a seguir, era atado em
molhos, devidamente seco para se retirar do paul e chegá-lo às máquinas
debulhadoras, que estavam ali instaladas no paul para esse fim.
AS CHEIAS
Havia anos de
muita chuva e antes desses trabalhos concluídos chegavam as cheias, e então era
só trabalhar, noite e dia, tentando retirar o mais possível. Se o tempo não
chegava eram retiradas as máquinas e o arroz era abandonado.
Os donos
choravam, o paul enchia, e na cheia perdia-se tudo, podia-se ver, deslizando,
levados pelas águas, os molhos do arroz, boiando sem mais recuperação, enquanto
outro ainda tinha ficado na terra por ceifar.
Aquela era a
grande cultura, a mais forte, de alguns agricultores da Ponte do Celeiro, e o
seu investimento nesta cultura era tal que chegavam a fazer empréstimos
bancários para a realizar, apenas um tiro no escuro, sem certeza de nada para o
seu pagamento, e assim se empenhavam bens à banca ou a usurários independentes.
Assim se
trabalhava com amor, assim se destruíam vidas na tentativa de uma vida melhor,
era apenas a luta pela vida, sem direitos a subsídios nem reclamações, apenas
acreditando na sorte ou aceitando a desgraça.
O único proveito
que podiam retirar das cheias era a renovação dos terrenos pois que, depois da
água secar, ficava tudo o que elas tinham trazido enterrado nas lamas, e quando
as terras eram trabalhadas de novo, se envolvia e se tornava em fertilizante.
Excertos do livro A Fazenda onde veio a luz ao Mundo
de Lídia Frade
COM O SOL A SUL LOGO DE MANHÃ!!!
JÁ FAZ MUITO TEMPO QUE ANDAVA PARA FOTOGRAFAR ESTA CEGONHA ALI NO NINHO, MAS..... UMAS VEZES QUANDO PASSO NÃO ESTAVA LÁ, OUTRAS LEVAVA TRANSITO ATRÁS, E NÃO CONVINHA ESTAR A FOTOGRAFAR, DESTA VEZ CONSIGUI, A FOTO POSSÍVEL E EM ANDAMENTO, MAS A CEGONHA ESTÁ LÁ!!!
PONTE DA ASSECA SANTARÉM!!!
FOTOS LÍDIA FRADE
Boa tarde Lídia, mais um artigo excelente sobre o Ribatejo e o Tejo que me marcou para toda a vida. Durante 13 anos quando acordava o meu olhar dirigia-se para o rio que lá em baixo banhava as terras onde nasci. Adorei o seu poema e toda a descrição das cheias, dos arrozais. Belíssimas fotos. Quanto mais o tempo avança mais sensível vou ficando a a tudo o que se relaciona com estas terras banhadas pelo Tejo. Um grande beijinhos muitos Parabéns pelo seu talento. Ailime
ResponderEliminarOBRIGADO QUERIDA AMIGA!!!
EliminarPOR ESSAS PALAVRAS DE APRECIAÇÃO INTERIORIZAÇÃO E AMIZADE!!!
SÓ PODEMOS SER O QUE RECOLHEMOS EM NÓS DOS ANOS VIVIDOS!!!
1 BEIJINHO LÍDIA
Uma recolha excelente para a história dessa região.
ResponderEliminarAs cheias assustam-me. Aqui perto aconteciam quando o Rio Liz rebentava as suas margens logo à saída da cidade e os nossos campos - Vale do Liz - eram uma lagoa calma.
OBRIGADO LUÍS PELA SUA LEITURA E PALAVRAS AMIGAS!!!
EliminarTAMBÉM CONHEÇO ESSA REGIÃO E CAMPOS DO RIO LIZ!!!
O MEU PAI FEZ VÁRIOS ANOS SEARAS DE TOMATE POR AI NESSES CAMPOS E MORAVA-MOS NOS BARREIROS PERTO DE AMOR E GANDARA DOS OLIVAIS, CREIO!!!
Olá Ligia! Passei para te felicitar pelo nosso dia: "O dia das mulheres". Adorei estar aqui e conhecer teu blog e sua boa escolha ao postar. Um beijo e felicidades menina!
ResponderEliminarOBRIGADO ROSE!!!
EliminarÉ SEMPRE BOM VER UMA AMIGA NOVA POR ESTE MEU ESPAÇO MUITO TEMÁTICO!!!
JÁ AGORA SUGIRO QUE CONHEÇA O MEU OUTRO BLOG, É MAIS DIVERSO!!!
DESEJOS DE UM LINDO DIA DA MULHER TAMBÉM!!!
1 BEIJO LÍDIA
Lidia o viver do campo sempre foi dificil em qualquer local, pois quando as intempéris chegam, quer seja chuva ou calor arrasam tudo, e destroem os sonhos de quem tanto lutou. Os meus avôs eram do Alentejo e quando vinham os ventos quentes queimavam tudo à sua passagem.
ResponderEliminarExcelente texto e fotografias.
Bom fim de semana
Beijinhos
Maria
OBRIGADO QUERIDA MARIA
EliminarPELA SUA LEITURA COMENTADA E CONHECEDORA!!!
1 BEIJINHO AMIGO!!!
DESEJOS DE BOA SEMANA!!!
LÍDIA
Boa tarde!
ResponderEliminarLindo post.
bom fim de semana!
A|braço fraterno!
Maria Alice
OBRIGADO AMIGA PELA VISITA!!!
EliminarDESEJOS DE UMA BOA SEMANA!!!
LÍDIA
Boa noite amiga Lídia
ResponderEliminarLi e vi com muita atenção toda a descrição da plantação e monda do arroz, das cheias, o seu belo poema e reportagem fotográfica.
Parabéns amiga, pois este seu blogue é um belíssimo testemunho de Amor pela sua terra Natal.
Nunca vivi em zonas rurais nem de cheias e só pensar nisso, arrepia-me e assusta-me. Que grande frustração das pessoas que se empenhavam nestes trabalhos que tanto poderiam resultar como arrasar-lhes com a vida de luta.
Obrigada uma vez mais por estas memórias que nos vão dando a conhecer muitas das tradições que se foram perdendo ao longo dos tempos.
Um beijinho
Lourdes Henriques.
QUERIDA DOURDES!!!
EliminarÉ SEMPRE COM MUITA ALEGRIA QUE VEJO A SUA PASSAGEM POR AQUI, E PRINCIPALMENTE MUITO AGRADECIDA PELA CALOROSA MENS QUE SEMPRE ME DEIXA BABADA DE TANTO CARINHO!!!
É MEU AGRADO CONSEGUIR PASSAR ESSA MENSAGEM,DE CONHECIMENTO MESMO PARA QUE NADA CONHECE COMO A LOURDES!!!
1 BEIJINHO LÍDIA
Oi Lídia!
ResponderEliminarFui criada em meio a cafezais, mas as plantações de arroz para subsistência, pincelavam cá e acolá. Eram assim também, tirando as cheias.
Abraço do Brasil - interior.
OBRIGADO CRISTINA PELA SUA PARTILHA BRASILEIRA!!!
EliminarNA VERDADE, EM TODO O LADO SE TEM DE COMER, SE TEM DE PLANTAR E SEMEAR PARA COMER!!!
1 BEIJINHO LÍDIA
Olá Lídia, eu fui criada com cegonhas, mas não vim numa delas, mas vivi sempre rodeada delas porque na herdade onde eu nasci tinhamos muitos arrozais ficava bem pertinho de Setúbal minha cidade Natal, e além de eu trabalhar no arroz elas sempre por ali andavam, e como se isso não chega-se... juntinho da minha casa talvez uma distância de uns cinquenta metros havia um pinheiro enorme onde elas ali dormiam.
ResponderEliminarDe manhãzinha ao nascer do sol logo elas começavam a bater a matracas com os bicos que me acordavam logo... era eu uma menina...além de ser uma Maria rapaz e andar um dia intero aos ninhos nunca consegui subir aquele pinheiro, mas também elas nunca ali nidificavam só faziam dali hotel para dormir...os ninhos, esses elas iam fazer nas torres das igrejas na Cidade, minha linda obrigada pelas lindas fotos e por me fazer voltar há minha infância... que já ficou bem lá para traz, beijinhos de luz e paz na sua vida.
OLÁ FRANCIETE!!!
EliminarOBRIGADO PELA PARTILHA DE LEMBRANÇAS!!!
POSSIVELMENTE NÃO SERIA MUITO AGRADÁVEL ACORDAR AO SOM DAS MATRACAS DAS CEGONHAS!!!
EU TENHO UMA VISÃO MUITO MAIS ROMÂNTICA DAS CEGONHAS A PRESERVAÇÃO, A FOTOGRAFIA, TALVEZ PORQUE NUNCA ME INCOMODARAM!!!
1 BEIJINHO AMIGA!!!
LÍDIA
Excelentes fotografias e texto....
ResponderEliminarCumprimentos
OBRIGADO FERNANDO
EliminarAGRADEÇO A SUA OPINIÃO E COMENTÁRIO GENEROSO, JÁ QUE VEM DE UM ARTISTA DA IMAGEM!!!
CUMPRIMENTOS
LÍDIA