quarta-feira, 6 de março de 2013

A TERRA QUE ME VIU NASCER!!! PELOS CAMINHOS DO RIBATEJO!!!

CADA VEZ QUE PASSO NESTE LOCAL, CHEGA SEM DEMORA A VISÃO QUE TENHO DE MENINA COM ESTE PAUL TODO INUNDADO, COM MUITA ALTURA DE ÁGUA, LOGO NO OUTONO, ONDE NEM O ARROZ AQUI SEMEADO SE TINHA COLHIDO, MUITAS VEZES POR FALTA AINDA DE MATURAÇÃO, OU QUANDO JÁ CEIFADO MAS SEM TEMPO PARA O RECOLHEREM...... CHEGAVA SEM AVISO O MAU TEMPO, COM ELE AS LEZÍRIAS E OS PAUIS FICAVAM COMPLETAMENTE INUNDADOS, OS MOLHOS DO ARROZ DESLIZAVAM NA CORRENTE, NO CIMO DAS ÁGUAS!!!
PERDIAM ASSIM TODA A COLHEITA.... TODO O TRABALHO....TODA A DESPESA..... SEM AVISOS NEM SEGUROS!!!
RUÍNA DE MUITOS AGRICULTORES!!!

 Uma boa recordação na escola veio do tempo das cheias... os pauis, ficavam todos alagados, as águas das cheias subiam ali, na Ponte do Celeiro, vários metros, acima do normal.
E aquela era uma das maiores cheias lembradas pelos residentes, que colocavam agora paus espetados a marcar a beira da água, chamavam-lhes uma baliza, sempre que por lá iam para ver, assim iam sempre verificando se o nível estava a subir ou a descer.
Tinha havido na ponte um acidente - ainda as águas estavam mais baixas - com uma camioneta que andava a fazer transporte de vinho, o motorista tinha pensado em entrar na ponte para passar, entrou mas esbarrou ao lado, e a camioneta mergulhou para a vala ficando apenas com a traseira de fora. O homem lá conseguiu sair mas o vinho foi pela cheia abaixo.
Este foi então um dia especial de passeio em que a tal professora levou os seus alunos a ver a cheia, e Dalila ficou muito feliz com este passeio, de ver a cheia ali mesmo na beirinha, o que normalmente não acontecia, só via de longe, dos cabeços de Almodelim, pois a sua casa ficava mais perto dos cabeços.
No tempo das cheias a camioneta permanecia do lado de cá, e outra esperava do lado das Fontainhas, depois, vinham barcos dos pescadores, e assim passavam as pessoas até à outra camioneta. Mas Dalila nunca passou de barco, para além do medo não tinha nada que a levasse a Santarém em tempo de cheias.
















PELO MEU OLHAR

Penetro o meu olhar
Pela noite branca
Ou em camadas suspensas
De, atmosferas nebulosas
Ou, banhadas, pelo luar.
Num ecrã,
Uma, casinha branquinha,
baixinha,
Entre montes abrigada,
Entre, nascentes cantadas,
De, imagens filtradas,
De, lembranças guardadas
Rebuscadas,
Pelo meu olhar,
Ou pela minha capacidade,
de sonhar.
Acordo, abro os olhos
ao dia que nasce, ao sol,
que na minha janela
já sorri para mim!
Revejo o invisível,
até na distância!
A minha casinha branquinha,
Baixinha,
Entre montes abrigada,
entre nascentes cantada,
recatada, encantada
e, guardada,
Pela minha capacidade
De sonhar.

Lídia Frade






 ESTA IMAGEM DO LADO ESTE COM ALGUMAS CASAS DAS FONTAINHAS!!!


 IMAGENS DO LADO SUL, E ESTES ESPELHOS DE ÁGUA QUE ADORO FOTOGRAFAR!!!
 OS TRABALHOS DO ARROZ
Como é de calcular, Dalila, antes de tudo o mais, trabalhava. E se na quinta dos Faias tinha começado a trabalhar no tomate, depois estivera nas vindimas, na azeitona, e apanha das vides quando chegou a Primavera, e nas mondas do trigo, e dar água à cura, de seguida Dalila iria trabalhar no plantio do arroz e, a seguir, nas mondas do arroz.
Julieta não podia fazer os trabalhos do arroz, tinha uma perna com um problema desde criança que poderia agravar-se com um simples arranhão, e plantar arroz era andar dentro de água, dentro de lama, até quase ao joelho.
Depois Dalila também estava bem acompanhada com várias mulheres da Atalaia, que já estavam habituadas, e foram elas que ensinaram Dalila, e no meio delas foi fácil aprender. Plantar arroz era engraçado, chegava atado em molhinhos pequenos, molhos que uma mulher pudesse agarrar só com uma mão, depois separava três ou quatro pés de plantas e colocava na lama, sempre recuando, umas ao lado das outras, suficientes para preencher a largura do canteiro.
Ficava assim um trabalho muito certinho, as plantas com parte da rama fora de água, a outra metade dentro da terra e da água, e como era feito a recuar, quando chegavam ao fim estava o canteiro lindo.
Quando acabavam de plantar o paul todo já o que havia sido plantado primeiro tinha crescido e, com ele, as ervas daninhas. Todas as ervas que crescessem facilmente dentro de água se desenvolviam, e aí era preciso arrancá-las. Chegavam assim as mondas, e continuava a ser esse um trabalho divertido para uma moça nova, andar naquele trabalho, era chapinhar um dia inteiro dentro de lama mas não era difícil, depois, bom... havia uma maneira de irem para casa cedo, pelo meio da tarde.
O grupo de mulheres a que pertencia Dalila fazia todos os dias um acordo verbal, ou talvez mais um desafio. O capataz percorria uma certa área de canteiros de arroz, aquilo que achava razoável para o trabalho de um determinado grupo de mulheres até à noite. A chefe mais sabida do grupo, ou mais conhecedora do trabalho, aceitava ou discutia a empreitada com o capataz, e metiam todas mãos ao trabalho, com garra, e pelas  quatro horas da tarde, mais ou menos, estavam perto de acabar o seu dia de trabalho e voltar para casa, com todo o trabalho acordado já executado.
Por essa época começou a ser implantada uma novidade nas sementeiras do arroz, a sementeira directa já nos canteiros. Começavam a fazer a título experimental, tudo era feito com outra dimensão, e por isso mesmo não podia ser em canteiros como os de plantio manual. A monda também passaria a um processo químico, e todos os outros trabalhos foram sendo alterados e substituídos, o trabalho manual trocado pelo de máquinas.
Triste era, nesta época, em tempo de cheias, se chovia muito cedo e os pauis enchiam, sem que os arrozeiros tivessem tempo para retirar o arroz, por não estar ainda devidamente maduro e, por isso mesmo, capaz de ceifar.
Enquanto os trabalhos eram feitos manualmente, era complicado: os ranchos iam ceifando o arroz que ficava espalhado por cima do restolho e, logo a seguir, era atado em molhos, devidamente seco para se retirar do paul e chegá-lo às máquinas debulhadoras, que estavam ali instaladas no paul para esse fim.

AS CHEIAS
Havia anos de muita chuva e antes desses trabalhos concluídos chegavam as cheias, e então era só trabalhar, noite e dia, tentando retirar o mais possível. Se o tempo não chegava eram retiradas as máquinas e o arroz era abandonado.
Os donos choravam, o paul enchia, e na cheia perdia-se tudo, podia-se ver, deslizando, levados pelas águas, os molhos do arroz, boiando sem mais recuperação, enquanto outro ainda tinha ficado na terra por ceifar.
Aquela era a grande cultura, a mais forte, de alguns agricultores da Ponte do Celeiro, e o seu investimento nesta cultura era tal que chegavam a fazer empréstimos bancários para a realizar, apenas um tiro no escuro, sem certeza de nada para o seu pagamento, e assim se empenhavam bens à banca ou a usurários independentes.
Assim se trabalhava com amor, assim se destruíam vidas na tentativa de uma vida melhor, era apenas a luta pela vida, sem direitos a subsídios nem reclamações, apenas acreditando na sorte ou aceitando a desgraça.
O único proveito que podiam retirar das cheias era a renovação dos terrenos pois que, depois da água secar, ficava tudo o que elas tinham trazido enterrado nas lamas, e quando as terras eram trabalhadas de novo, se envolvia e se tornava em fertilizante.

Excertos do livro A Fazenda onde veio a luz ao Mundo
de Lídia Frade


COM O SOL A SUL LOGO DE MANHÃ!!!












JÁ FAZ MUITO TEMPO QUE ANDAVA PARA FOTOGRAFAR ESTA CEGONHA ALI NO NINHO, MAS..... UMAS VEZES QUANDO PASSO NÃO ESTAVA LÁ, OUTRAS LEVAVA TRANSITO ATRÁS, E NÃO CONVINHA ESTAR A FOTOGRAFAR, DESTA VEZ CONSIGUI, A FOTO POSSÍVEL E EM ANDAMENTO, MAS A CEGONHA ESTÁ LÁ!!!

PONTE DA ASSECA SANTARÉM!!!

FOTOS LÍDIA FRADE 

18 comentários:

  1. Boa tarde Lídia, mais um artigo excelente sobre o Ribatejo e o Tejo que me marcou para toda a vida. Durante 13 anos quando acordava o meu olhar dirigia-se para o rio que lá em baixo banhava as terras onde nasci. Adorei o seu poema e toda a descrição das cheias, dos arrozais. Belíssimas fotos. Quanto mais o tempo avança mais sensível vou ficando a a tudo o que se relaciona com estas terras banhadas pelo Tejo. Um grande beijinhos muitos Parabéns pelo seu talento. Ailime

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    1. OBRIGADO QUERIDA AMIGA!!!
      POR ESSAS PALAVRAS DE APRECIAÇÃO INTERIORIZAÇÃO E AMIZADE!!!

      SÓ PODEMOS SER O QUE RECOLHEMOS EM NÓS DOS ANOS VIVIDOS!!!

      1 BEIJINHO LÍDIA

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  2. Uma recolha excelente para a história dessa região.
    As cheias assustam-me. Aqui perto aconteciam quando o Rio Liz rebentava as suas margens logo à saída da cidade e os nossos campos - Vale do Liz - eram uma lagoa calma.

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    1. OBRIGADO LUÍS PELA SUA LEITURA E PALAVRAS AMIGAS!!!

      TAMBÉM CONHEÇO ESSA REGIÃO E CAMPOS DO RIO LIZ!!!

      O MEU PAI FEZ VÁRIOS ANOS SEARAS DE TOMATE POR AI NESSES CAMPOS E MORAVA-MOS NOS BARREIROS PERTO DE AMOR E GANDARA DOS OLIVAIS, CREIO!!!

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  3. Olá Ligia! Passei para te felicitar pelo nosso dia: "O dia das mulheres". Adorei estar aqui e conhecer teu blog e sua boa escolha ao postar. Um beijo e felicidades menina!

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    1. OBRIGADO ROSE!!!
      É SEMPRE BOM VER UMA AMIGA NOVA POR ESTE MEU ESPAÇO MUITO TEMÁTICO!!!
      JÁ AGORA SUGIRO QUE CONHEÇA O MEU OUTRO BLOG, É MAIS DIVERSO!!!
      DESEJOS DE UM LINDO DIA DA MULHER TAMBÉM!!!
      1 BEIJO LÍDIA

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  4. Lidia o viver do campo sempre foi dificil em qualquer local, pois quando as intempéris chegam, quer seja chuva ou calor arrasam tudo, e destroem os sonhos de quem tanto lutou. Os meus avôs eram do Alentejo e quando vinham os ventos quentes queimavam tudo à sua passagem.
    Excelente texto e fotografias.
    Bom fim de semana
    Beijinhos
    Maria

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    1. OBRIGADO QUERIDA MARIA
      PELA SUA LEITURA COMENTADA E CONHECEDORA!!!
      1 BEIJINHO AMIGO!!!
      DESEJOS DE BOA SEMANA!!!

      LÍDIA

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  5. Boa tarde!
    Lindo post.
    bom fim de semana!
    A|braço fraterno!
    Maria Alice

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    1. OBRIGADO AMIGA PELA VISITA!!!
      DESEJOS DE UMA BOA SEMANA!!!

      LÍDIA

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  6. Boa noite amiga Lídia
    Li e vi com muita atenção toda a descrição da plantação e monda do arroz, das cheias, o seu belo poema e reportagem fotográfica.
    Parabéns amiga, pois este seu blogue é um belíssimo testemunho de Amor pela sua terra Natal.
    Nunca vivi em zonas rurais nem de cheias e só pensar nisso, arrepia-me e assusta-me. Que grande frustração das pessoas que se empenhavam nestes trabalhos que tanto poderiam resultar como arrasar-lhes com a vida de luta.
    Obrigada uma vez mais por estas memórias que nos vão dando a conhecer muitas das tradições que se foram perdendo ao longo dos tempos.
    Um beijinho
    Lourdes Henriques.

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    1. QUERIDA DOURDES!!!

      É SEMPRE COM MUITA ALEGRIA QUE VEJO A SUA PASSAGEM POR AQUI, E PRINCIPALMENTE MUITO AGRADECIDA PELA CALOROSA MENS QUE SEMPRE ME DEIXA BABADA DE TANTO CARINHO!!!

      É MEU AGRADO CONSEGUIR PASSAR ESSA MENSAGEM,DE CONHECIMENTO MESMO PARA QUE NADA CONHECE COMO A LOURDES!!!

      1 BEIJINHO LÍDIA

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  7. Oi Lídia!
    Fui criada em meio a cafezais, mas as plantações de arroz para subsistência, pincelavam cá e acolá. Eram assim também, tirando as cheias.
    Abraço do Brasil - interior.

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    1. OBRIGADO CRISTINA PELA SUA PARTILHA BRASILEIRA!!!
      NA VERDADE, EM TODO O LADO SE TEM DE COMER, SE TEM DE PLANTAR E SEMEAR PARA COMER!!!

      1 BEIJINHO LÍDIA

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  8. Olá Lídia, eu fui criada com cegonhas, mas não vim numa delas, mas vivi sempre rodeada delas porque na herdade onde eu nasci tinhamos muitos arrozais ficava bem pertinho de Setúbal minha cidade Natal, e além de eu trabalhar no arroz elas sempre por ali andavam, e como se isso não chega-se... juntinho da minha casa talvez uma distância de uns cinquenta metros havia um pinheiro enorme onde elas ali dormiam.
    De manhãzinha ao nascer do sol logo elas começavam a bater a matracas com os bicos que me acordavam logo... era eu uma menina...além de ser uma Maria rapaz e andar um dia intero aos ninhos nunca consegui subir aquele pinheiro, mas também elas nunca ali nidificavam só faziam dali hotel para dormir...os ninhos, esses elas iam fazer nas torres das igrejas na Cidade, minha linda obrigada pelas lindas fotos e por me fazer voltar há minha infância... que já ficou bem lá para traz, beijinhos de luz e paz na sua vida.

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    1. OLÁ FRANCIETE!!!

      OBRIGADO PELA PARTILHA DE LEMBRANÇAS!!!
      POSSIVELMENTE NÃO SERIA MUITO AGRADÁVEL ACORDAR AO SOM DAS MATRACAS DAS CEGONHAS!!!
      EU TENHO UMA VISÃO MUITO MAIS ROMÂNTICA DAS CEGONHAS A PRESERVAÇÃO, A FOTOGRAFIA, TALVEZ PORQUE NUNCA ME INCOMODARAM!!!

      1 BEIJINHO AMIGA!!!

      LÍDIA

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  9. Respostas
    1. OBRIGADO FERNANDO

      AGRADEÇO A SUA OPINIÃO E COMENTÁRIO GENEROSO, JÁ QUE VEM DE UM ARTISTA DA IMAGEM!!!

      CUMPRIMENTOS

      LÍDIA

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