quinta-feira, 9 de maio de 2013

QUINTA FEIRA DE ASCENÇÃO NA FREGUESIA DE ALMOSTER!!!




ERA POR AQUI, ONDE HOJE ESTÁ COLOCADA ESTA PLACA, QUE SE CORRIAM AS CAVALHADAS!
CAPITULO 28º

QUINTA-FEIRA DE ASCENÇÃO

Pouco depois chegava pois a Quinta-feira de Ascensão, nesse dia não havia baile mas havia a matiné no Entroncamento do Noel. Era um dia grande, também, era feriado e as raparigas ali das terras vizinhas, juntavam-se lá para dançar, vinham algumas da Póvoa da Isenta, encontravam-se com as de Atalaia, que já tinham ido até à Quinta da Centieira apanhar a espiga. 

Seguiam em grupo numa alegria imensa com alguns rapazes que já se lhes tinha juntado, até ao cruzamento, e lá se aglomeravam com o grupo maior que vinha do Casal da Charneca.
Normalmente já vinha integrado no seu grupo o Carlos, era o acordeonista lá da terra e participava sempre nestas brincadeiras, o que era interessante, e havia o Noel que também tocava acordeão, e o Guinetas, que era de Vila Nova do Coito.




Quando se juntavam dois deles era bem melhor, a música era mais diversa, ou então muitas vezes passavam a dançar várias vezes a mesma música como a ‘Tira a Lagarta da Couve” - era engraçado, mas já era muito pouco para a juventude da época.
Juntavam-se ainda as raparigas de Almoster mas, entre todas, as do Casal da Charneca marcavam pontos, elas tinham as quintas onde trabalhavam sempre mas. Outras, nem trabalhavam no campo, as famílias eram mais endinheiradas, não precisavam de trabalhar para os outros, ou até labutavam bem pouco, para os pais.


No último ano em que Dalila foi dançar para o Entroncamento - tinha dezasseis anos, andava a trabalhar - comprou um tecido engraçado ao Senhor Madeira, com um fundo verde seco e uns desenhos geométricos, bem bonito, mas não era um tecido rico.
Ela já fazia toda a roupa para ela e para as irmãs, e fez agora um vestido, de que tinha tirado o modelo de uma revista, e até estava bem giro. Mas naquele dia todas vestiam também o melhor que podiam, todas estreavam roupa nova.

Quando se juntaram com as do Casal da Charneca, vinham algumas das tais que os pais lhes davam tudo, havia uma muito loura, loura natural, vinha no grupo, e vestia um vestido bem verde, de bordado inglês, um tecido só para meninas ricas. Dalila, como adorava verde, gostou muito de ver o vestido, que era bem bonito, mas esse encanto até se dissipou, quando a arrogância da sua dona sobressaiu acima dessa beleza. 


QUINTA-FEIRA DE ASCENÇÃO


De fato novo vestida
Quase sempre a estrear
Eu ia procurar a espiga
E cerejas apanhar.
Deste dia, em tal beleza,
Lembranças passadas, eu guardo
Porém sem grande certeza
Pelo seu significado.
Depois foi tempo de encanto
E o manter da tradição
Em bailaricos no campo
Com música de acordeão.
Dizia a avó, com carinho,
Deste dia tão guardado
Nem pássaros iam ao ninho
Em respeito a Cristo amado.

LÍDIA FRADE



Dizia a dita menina de vestido verde de bordado inglês, desdenhosamente, que as raparigas da Atalaia estavam vestidas com as roupas que ela usava ‘de semana’.
Sim, porque nessa época, as roupas que se usavam de semana, não eram as mesmas dos dias de festas, eram feitas de tecidos mais modestos e aí estava a diferença, o estatuto social da tal menina era superior, tal como o seu vestido em relação ao de Dalila.
Mas como a base da educação ou da felicidade não poderiam ser a arrogância, ou a ignorância, Dalila pensou, e achou, que poderia ser mais feliz com o seu vestido de pobre, mais rica, de pensamentos, de ideais, de sonhos, que não cabiam dentro de um rico vestido verde de bordado inglês.
OS SANTOS POPULARES

Logo a seguir chegavam quase de um pulo os Santos Populares, que eram vividos com muita intensidade por toda a juventude da época, e as fogueiras da véspera do Santo António arrancavam com toda uma sequência.
As raparigas combinavam: a fogueira em cada dia era feita em frente da casa de cada uma. Isto mais pelos pais, que davam mais importância ao local que as filhas. Pois, por estas, quanto mais longe, mais à vontade, um pouco, se estava, por vezes, para namorar, ou para os pais não se aperceberem com quem falavam, dançavam, ou saltavam à fogueira.

Durante a tarde Dalila ia com o macho, a carroça do pai e um grupo de raparigas ao pinhal, ao mato, para apanhar alecrim, marcela, rosmaninho e outros arbustos que estalavam ao entrar no lume - era um pouco para substituir as bombinhas que não tinham.
Quando chegava a noite, levavam a carrada de arbustos que tinham apanhado para o local onde se iria fazer a fogueira. Esperavam o mais possível para estarem todas, e para se lhes juntarem os rapazes da terra, e os demais que vinham de várias aldeias vizinhas.

A fogueira, ateada que estava, começava-se depois por se deixar saltar os miúdos mais pequenos, e a seguir, já com uma chama mais alta, saltavam em sequência os grandes ou os pares.
Depois tinham as alcachofras: apanhadas floridas, brancas ou azuis, cortados os espinhos do pé, para que ninguém se picasse, eram queimadas as flores pelas moças que pediam ao Santo António que lhes mostrasse se o seu pretendente gostava muito ou pouco delas, dizendo o seu nome em segredo.

Colocada a alcachofra espetada no jardim ao luar, com as pontas queimadas, no dia seguinte iam espreitar se estava muito, ou pouco florida - assim se via quanto o seu pretendente lhe queria.
Claro que todo aquele ritual era para brincar, algumas até queimavam várias alcachofras por vários rapazes, e algumas mais sabidonas até sabiam que sempre floria mais se ficasse menos queimada.
Depois tinham as rodas, cada rapaz convidava a menina que queria conquistar para entrar na roda, o pior era se alguém se atrasava e já não conseguia quem mais lhe interessava.

Mas tudo se ajeitava e acabavam sempre por ir parar nos braços um do outro, mesmo para despeito de alguma que era passada para trás, e todas cantavam as modas de roda.
Alguns rapazes até aprendiam a cantar uns versos às raparigas, o que era interessante e muito romântico, e até ensinavam outras rodas que elas não conheciam como o ‘Ladrão de Meio’ que era lá da terra deles, e que um cantava em quadra à sua preferida.

Refrão:
Óh ladrão do meio
Tu anda ligeirinho                      
Não queiras ficar
Na roda sozinho.

Quadra Popular:
Jura amor, que eu também juro
Faz uma jura bem-feita
Jura amor, que me hás-de dar          
Na igreja a mão direita.

Alguns destes namoricos resultaram em casamento, com todo o romantismo e longo namoro, outros, não passaram da pretensão, e brincadeira.

AS CAVALHADAS

Depois era nos Santos Populares onde também  se faziam as cavalhadas, e no S. Pedro era sempre em Almoster, o baile na véspera do Santo, depois as cavalhadas, no próprio dia, durante a tarde, o que era sempre muito divertido.

Colocavam duas varolas de eucalipto de cada lado da estrada, uma corda com um engenho lá pendurado no meio, onde era colocado um carrinho de linhas vazio, com uma fita de seda enrolada, e uma argola na ponta. 
Estava tudo lá para as ditas cavalhadas, os rapazes de bicicleta a maioria, de mota alguns, e ainda outros, mais originais, que conseguiam ir mais às origens, vinham de burro, sim! É que as origens das cavalhadas será mesmo com gado cavalar ou asinino.
Depois faziam uma inscrição para ‘X’ de corridas pagando o equivalente, seriam chamados pela sua vez na inscrição, saíam do local de partida, uns metros antes do sítio onde estava a fitinha enrolada, pendurada, com uma argolinha na ponta, e onde cada corredor tinha de passar a uma velocidade de corrida de burro.

Com um bico feito de qualquer coisa que poderia ser até um lápis, teria de acertar, enfiar e levar a fita consigo, para ter direito a um prémio, mostrado antes na partida ao concorrente.
Para os prémios, era hábito irem elementos da comissão de festas pedir de porta em porta, e cada pessoa daria o que pudesse, um frango, um coelho, ovos, ou qualquer quinquilharia que tivesse em casa, tudo servia para encher os cestos de verga grandes que levavam para recolher as prendas.

Todas as pessoas iam ver as cavalhadas e Dalila lá estava também com as irmãs, as amigas, e as mães. Quando alguns rapazes amigos retiravam algumas coisas eram elas que iam guardando. Depois, no final, algumas que se poderiam partir no regresso deles a casa, tal como ovos, ou outras de pouca importância, eles repartiam com elas, o que era sempre agradável.
Mas tudo era imprevisível, os pais nem sempre concordavam com os bailaricos para todos os fins de semanas, as mães até estavam sempre de acordo mas, os pais, eram mais difíceis, mas Dalila pedia, rezava a todos os Santos e Santas, para que o pai as deixasse ir.

Quando iam à missa rezavam e pediam com todo o fervor a Deus, no momento da eucaristia - que era o momento mais solene e que ela achava, poderia ser mais escutada - para que o pai as permitissem ir ao baile, o que não deixava de ser uma angustia, até o pai chegar para jantar e ela, com toda a pouca sabedoria, tentava da melhor maneira convencer o pai a deixá-las ir.
Mas era uma tortura, o pai arranjava todos os pretextos para lhes exigir mais, e para o dia seguinte enumerava já todos os trabalhos possíveis e imaginários para fazer na horta. Depois de elas prometerem fazer tudo o que ele dizia, depois de todo um massacre, lá dava autorização, com a hora marcada para estarem em casa, mas era apenas uma altura de sofrimento, compensada pela alegria de irem dançar.
  
Depois, vinham as festas de arraial, festas de Verão, e era uma delícia, em cada fim-de-semana passou a haver uma festa em cada aldeia, claro, quando o pai deixava, lá estavam elas, e então quando eram bons grupos de baile ninguém gostava de faltar.
Era o que acontecia naquele Verão de 1965 em Almoster! Gente com dinheiro, de peso e iniciativa, juntaram-se e levaram lá os ‘6 DE PORTUGAL’, um grande grupo de baile da época e que ia lá fazer um baile por um bom cachet.

A sala da colectividade, à época, era muito pequena, e o baile foi feito no armazém do lagar de azeite! Grande baile, grande conjunto, bela música, muitas raparigas, muitos rapazes, mas poucos teriam já dançado ao som daquele grupo.
Foi uma noite de alegria, e Dalila foi dançar com um rapaz muito engraçado e simpático, que mais tarde namorou e casou com sua prima, e foi lá que a prima o conheceu, ele era da terra vizinha da Louriceira, e dançaram tão efusivamente a sua ‘moda da vassoura’ que conseguiram vencer essa dança, ganhando o tal prémio de um sumo para cada um, no final.

RECORDANDO ALMOSTER
És refúgio, para vida citadina
O oásis de quem luta dia a dia
Pureza calma, de aldeia pequenina
De quem recebe, por amor, com alegria.

Filhos da terra, de quem se espera valor
Para esta mãe, velhinha, e tão esquecida
De coração alegre, por tanto amor
Que nos quer dar, do seio da própria vida.

Berço de Nobres, embalados nos seus braços,
Que os uniu a ela, longínquos laços
Que nos orgulha, do seu passado de glória.

Recolheu, no seu regaço protector
Quem procurou refúgio, paz, ou por amor
Que faz viver, ou recordar, a nossa história.


TEXTOS E POEMAS LÍDIA FRADE

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPITULO

4 comentários:

  1. Respostas
    1. OLÁ PIMENTAL
      OBRIGADO PELA VISITA, É UM GRANDE GOSTO RECEBE-LO!!!

      AGRADEÇO MUITO A SUA OPINIÃO SOBRE O MEU TRABALHO, TAMBÉM PENSO SER UM TRABALHO COM QUALIDADE PERA DEIXAR ALGUNS CONHECIMENTOS QUE SE VÃO PERDENDO!!!

      LÍDIA

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  2. Olá querida amiga Lídia, que recordações de tempos pobres mas até se podia dormir de portas abertas que todos se respeitavam onde nem sequer se ouvia falar de ladrões, nem de assasinos, e quando alguma história dessas aparecia...andava-se ali uns tempos sempre a pensar mas geralmente vinham sempre de terras distantes.
    Amiga todas as suas vivencias aqui narradas eu tenho-as bem gravadas na minha memória...é bom recordar os bons tempos da mocida que já lá vai tão longe de mim.
    Querida tenha um lindo fim de semana com beijinhos de luz.

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    1. OBRIGADO FRANCIETE PELA APRECIAÇÃO!!!

      PELAS PALAVRAS AMIGAS E RECORDADAS!!!

      DESEJOS DE BOM FIM DE SEMANA!!!

      E BEIJINHO LÍDIA

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